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Um Ano


Foto de José Carlos Branco.

Faz um ano que a janela dessa foto não vê ninguém em seu batente. Ela ainda é aberta pelas manhãs, e fechada ao cair da noite; as cortinas ainda balançam ao vento, mas não mais da mesma forma. Não mais pois a pessoa que fazia isso, que preparava o café todas as tardes e sentava na cozinha olhando os pássaros voando pelo quintal, não está mais lá.


Minha avó foi uma pessoa excepcional, e faz uma falta enorme. São nas pequenas coisas que isso mais se mostra: no silêncio da casa a tarde, sem o rádio que ela sempre ligava ao entrar na cozinha; na mesa desarrumada para o café da tarde, que ela fazia questão de arrumar; nas cortinas abertas da sala, que ninguém se importa em fechar. São tantas pequenas coisas que listá-las me parece impossível.


Antes de continuar, um comentário: as pessoas que falam que "as saudades passam" ou que "o tempo cura todas as feridas" estão, sem excessões, ou mentindo ou alimentando uma grande ilusão coletiva. As saudades se mantém, isso se não crescerem. Contudo, o tempo trás algo incomparavelmente mais importante e útil: sabedoria. Os dias se tornam semanas, que se tornam meses, e sem perceber aprendemos várias coisas; adquirimos várias ferramentas que tornam suportar as saudades mais e mais fácil.


Nesse ano, uma pessoa muito sábia me disse algo um tanto simples, mas que muito me fez pensar. "Não podemos ver a morte como uma perda, mas sim como o final de uma vida bem vivida." Não tivemos uma perda ano passado, mas testemunhamos o final de uma belíssima história, que incluiu um pouco de tudo; uma história que continua com cada um de nós, nos ensinamentos que nos foram passados, e nas memórias que carregamos conosco.


O texto que escrevi ano passado está disponível aqui. Espero que traga um pouco de conforto aqueles que precisarem, e que passe algumas das lições que minha avó me ensinou.

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